Texto e Fotos: Marcelo Duprat
A planta, da família das mirtáceas, gosta de bastante luz, mas não de sol direto nos horários de maior intensidade. Prefere clima ameno e suporta solo relativamente seco. Têm a característica de ramificar abundantemente em determinado ponto. São bastante apreciadas em topiarias comuns de jardim, para formação de cercas e maciços, pois possibilitam a formação de copas com formas bem desenhadas. De fato, a tendência da espécie em formar copas densas é enorme. Normalmente estas copas são tão cerradas que não deixam a luz do sol entrar em seu interior, o que faz com que as folhas internas sequem muito rapidamente. Para a formação de um penjing ou bonsai isto, entretanto, se mostra problemático, pois as copas tendem a crescer em sua superfície e secar em seu interior, aumentando assim o seu volume constantemente. Esteticamente a ramificação abundante em determinado ponto é também uma característica típica dos arbustos e não das árvores antigas. A espécie, portanto, impõe um esvaziamento constante das copas com a eliminação dos ramos excessivos.
Outra característica importante da espécie é que recebendo sol em seu interior, as eugênias brotam facilmente em tronco de qualquer idade. Entretanto, demora para que o novo broto se harmonize com a espessura do antigo. O engrossamento do tronco e galhos, assim como a fixação de ramos aramados demanda mais tempo do que na maioria das espécies utilizadas para bonsai e penjing.
Todo o trabalho desenvolvido levou em consideração estas características e pode ser resumido como um constante esvaziar da planta, aproveitando, a cada etapa, o mínimo suficiente de ramos que a planta tinha a oferecer para a formação de determinada configuração da copa. Ainda hoje me impressiona a grande quantidade de material retirado a cada poda, por vezes com ramos antigos, sem que isso altere significativamente a configuração geral da copa.
Janeiro de 2006
A planta me sugeria uma árvore frondosa com parte de sua copa projetada sobre um lago. Como não havia de minha parte pretensão de engrossar mais o tronco preparei o primeiro suiban com o objetivo de desenvolver um Penjing. Foi feito de cimento branco e modelado a partir de uma fôrma de gesso com a proporção de 45 x 30 cm. Também as pedras, neste primeiro momento, foram totalmente feitas de cimento, devidamente pintadas durante o processo de secagem com pigmentos resistentes a luz solar. Tendo por base os princípios de água e terra, busquei equilibrar os dois volumes dividindo-os com o conjunto das pedras.
O movimento do conjunto foi todo voltado para a área de água. Coloquei uma pedra alta e com tampo chato ao fundo do lado direito. A idéia foi que ao redor do tampo estivesse o volume mais alto de substrato. Criou-se assim uma descida entre este ponto e o volume mais baixo da praia, deliberadamente mais próxima do plano do suiban.
Este volume mais alto de substrato foi contido por um lado pela pedra e por outro pelas raízes mais vigorosas do lado direito da eugênia, criando assim uma espécie de degrau que valoriza e justifica as raízes. Com isso o tronco ficou também um pouco mais enterrado diminuindo visualmente sua proporção. Ao lado uma foto logo após o transplante.
Este novo elemento, a praia, também daria uma maior liberdade de acomodação das pedras com o torrão de raízes, pois a praia constituía um elo facilmente modelável na hora do transplante. Foi feita com areia misturada com silicone, o mesmo utilizado para assentar as pedras no suiban e isolar a área da água da área do substrato. Ao lado um exemplo de como uma placa bem fina da mistura se mantém com um aspecto natural.
O bode, modelado em arame e durepox, entrou como um elemento escultórico cujo movimento do corpo e do olhar também estão voltados para a área da água. Por sua vez os chifres voltados para trás se harmonizam com os ramos do lado direito da árvore criando assim uma identidade com o conjunto.
Janeiro de 2007
Mas confiante das características da planta comecei a subdividir a copa em patamares tentando manter sua dinâmica geral. Cabe aqui nos estendermos um pouco mais para que se veja como as eugênias são maravilhosas no quesito de formação das copas. A princípio criei diversas faixas horizontais e logo percebi que havia um vazio que atravessava o conjunto em um ritmo similar ao movimento geral do penjing.
Mas desde o início havia sentido a conveniência de um grande vazio do lado direito da planta, localizado sobre a pedra mais alta. O “vazio” do ar e o da água, cada qual de seu lado, se harmonizaram. Para valorizá-lo optei por retirar um dos ramos principais (aponte sobre a imagem acima e veja a linha azul) que já não estava a contribuir em nada na dinâmica geral da copa. Notem que a retirada deste galho não alterou muito a dinâmica do conjunto pois havia material suficiente no galho de cima para substittui-lo.
Busquei também criar uma dinâmica de vazios nas copas voltados para o vazio sobre a pedra ao invés de acompanhando o movimento do galho em queda...
Matéria extraída da revista eletrônica A Arte Bonsai
(http://www.artebonsai.com.br)
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