sexta-feira, 10 de abril de 2009

Tenha "visão" em seus Bonsai

Texto de Vinicius Costa

Pegue um planta bruta, sem nenhum tipo de trabalho ou condução. Como transformá-la em um bonsai? Basta aramar os galhos para baixo e podá-la? É só plantá-la em um vaso raso (ou bandeja)?

Sabemos que nada é tão simples assim. Claro que os monges chineses não ficavam pensando em regras quando faziam os seus, há mais de mil anos atrás, mas toda atividade sofre evoluções com o passar do tempo, ainda mais quando o ser humano está envolvido (já que temos a maravilhosa habilidade de “complicar” o que é simples), e no bonsai surgiram as regras. Em sua maioria, definidas pelos japoneses com o intuito de organizar um pouco as coisas, mas nunca com a intenção de desprezar determinado trabalho de determinado bonsaísta. As regras servem como alicerce para quem está começando, para entender o que pode ser feito para que a planta chegue onde você quer, sem danificá-la.

Eu considero as regras como um caminho trilhado, por onde é seguro passar, mas em um determinado ponto do caminho, as regras deixam de ser educadoras e passam a ser limitadoras. Mas não é exatemente sobre as regras que eu queremos falar, afinal, ler um livro e decorar regras é fácil, não? Mas e como aplicá-las?


Como definir qual estilo determinada planta terá?

Esse é o famoso “pulo do gato“, não basta saber as regras, é preciso ter uma visão da planta. Olhar para sua estrutura, analizar seus ramos, sua curvatura, olhar cada pedaço individualmente e o todo também. Contemplar a planta e imaginar o que acontecerá se você cortar ou aramar determinado galho.

Nada te impede de pegar qualquer planta e querer encaixá-la em qualquer estilo, você vai até conseguir, independente do tempo que vai demorar, mas o grande lance do bonsai, em minha humilde opinião, é olhar a planta e ver pra onde ela está indo, analisar suas possibilidades.

Conseguir enxergar em uma planta bruta as diversas possibilidades, a frente da planta e o futuro da mesma. Muitas pessoas gostam de colocar essa visão em um papel, fazendo desenhos de como a planta vai ficar no futuro. O famoso Jhon Naka (já falecido), possuía diversos sketchbooks, onde ele desenhava suas plantas até mesmo para exemplificar os diferentes estilos, e esse é um conselho que eu sempre dou para quem me pergunta por onde começar… Rabisque bastante, estude suas plantas, faça e refaça desenhos, mesmo que não saiba desenhar. Os desenhos são os seus projetos, apenas para você se guiar quando for executar o trabalho em seu bonsai.

A visão é o que permite que um arbusto assim:


Mestre Roberto Gerpe.


Se transforme em algo assim:

A visão pode ser treinada, com o passar dos anos você vai aprendendo a entender a planta, a saber o que pode ser feito com ela, talvez você faça uma obra de arte, talvez não, mas será algo SEU, feito com a sua visão, e deve ser belo para você, e viável para a planta. De nada adianta fazer uma escultura, se em poucas semanas a planta irá morrer, o ponto principal do bonsai é (ou pelo menos deveria ser) a sua conexão com a natureza, você aplicar formas à sua planta de maneira que ela cresça saudável, ou você acha que os primeiros monges que cultivaram bonsai pensaram em fazer isso apenas para causar inveja nos outros?

Humildade amigos, humildade é algo essencial para um bonsaísta. Quem sabe DE VERDADE não fica bradando aos ventos que é melhor do que alguém, quem sabe é sereno, e compreeende que cada um tem o seu caminho, uns com mais obstáculos, outros com menos, mas todos chegarão no mesmo lugar.


Texto extraído do site Projeto Bonsai
(http://www.projetobonsai.com)

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